Um astronauta, um veterano sikh condecorado pelo serviço no Afeganistão, uma nadadora paralímpica, uma refugiada afegã, um ativista injustamente preso na Índia por terrorismo ou um ex-jogador de hóquei que ficou paralisado num tiroteio. Estas são algumas das histórias por detrás dos rostos do novo executivo liberal canadiano, que põe fim a quase uma década de poder conservador. "Um governo que é a imagem do Canadá", disse o primeiro-ministro Justin Trudeau na cerimónia de tomada de posse..Uma das novidades mais visíveis no novo governo é que existe paridade de género. Questionado sobre o porquê desta opção, Trudeau limitou-se a responder com um sorriso: "Porque estamos em 2015." Dos 30 ministros, 18 não têm experiência em cargos políticos, incluindo o novo responsável pelas Finanças, Bill Morneau - ex-diretor-geral da maior empresa de recursos humanos do Canadá. Para compensar, há no executivo rostos que estão há décadas na política, como o do novo chefe da diplomacia, Stephane Dion, antigo líder do Partido Liberal.."Este vai ser um período de ajustamento no mundo político no Canadá", disse Trudeau após a tomada de posse, indicando que as decisões serão tomadas com base na confiança e no trabalho de equipa nos conselhos de ministros. O antecessor, Stephen Harper, no poder desde 2006, era acusado de centralizar todas as decisões e a ideia de Trudeau - que tem uma maioria absoluta - é romper com o passado..Uma prova disso foi precisamente o estilo descontraído da cerimónia de tomada de posse, em que os cantores aborígenes estabeleceram um contraste com o classicismo do Rideau Hall (residência oficial do governador). Trudeau, que prometeu transparência no governo, abriu os jardins à população e não hesitou em tirar selfies com os canadianos que não quiseram perder a oportunidade de ver de perto o novo primeiro-ministro, filho do falecido chefe de governo Pierre Trudeau. "Por um dia, mesmo os céticos foram forçados a admitir que o simbolismo positivo foi um antídoto perfeito para os severos e austeros anos Harper", escreveu o comentador John Ivinson, do National Post..Novos rostos."Foi quase esmagador para os sentidos, como no momento em que Dorothy entrou no technicolor em O Feiticeiro de Oz", disse Ivinson sobre a cerimónia, deixando contudo um alerta para os novos ministros: "Vão precisar de toda a experiência e capacidades que possuem quando acordarem e descobrirem que já não estão no Kansas.".A mais jovem ministra (e a primeira muçulmana), à frente da pasta das Instituições Democráticas, é Maryam Monsef, de 30 anos. Tinha 11 quando a mãe fugiu com os filhos do Afeganistão, conseguindo o estatuto de refugiada no Canadá. As minorias religiosas estão representadas também por vários ministros sikh. Entre eles o titular da pasta da Defesa, Harjit Sajjan, que foi o primeiro a comandar um regimento do Exército canadiano e foi condecorado pelo seu serviço em Kandahar, onde aproveitou a sua experiência passada como polícia na unidade de gangues de Vancouver..A pasta dos Veteranos ficará, porém, nas mãos de Kent Hehr, que apesar de nunca ter combatido percebe as dificuldades que muitos antigos combatentes sentem ao nível da burocracia. O ministro era uma promissora estrela de hóquei quando ficou tetraplégico, num tiroteio em 1991. Outro sikh é o indiano Amarjeet Sohi, que em 1988, quando era um jovem ativista social, foi acusado de terrorismo pelas autoridades indianas. Esteve detido sem acusação durante quase dois anos..A população aborígene também não foi esquecida e, pela primeira vez, o Canadá terá uma ministra da Justiça oriunda das Primeiras Nações, Jody Wilson-Raybould. Já o inuíte Hunter Tootoo, à frente da pasta das Pescas, levou uma gravata de pele de foca para a cerimónia..A ministra do Desporto e das Pessoas com Deficiência é a ex-atleta invisual Carla Qualtrough, vencedora de três medalhas paralímpicas na natação e ex-presidente do Comité Paralímpico. Marc Garneau, o primeiro astronauta canadiano, com três missões espaciais no currículo, é o ministro dos Transportes.